domingo, 19 de setembro de 2010

Eu não tinha paz e nem paciência estes eram os meus problemas principais que desencadeavam os outros, como alguém que diz ter Deus no coração pode estar assim? Como achar o caminho de volta ou simplesmente o caminho? Estas eram as perguntas que me fazia. Meu desespero era tanto que fiz o propósito, lógico para mim, porém o mais atrapalhado que uma pessoa possa fazer.

Rezaria o terço todos os dias durante 100 dias nestas intenções e pelas pessoas que passaram em minha vida, que eu não soube acolher. Acreditava que ao contar aquelas “continhas” eu treinaria a paciência e voltaria aos poucos a rezar o terço e com isso encontraria a paz. Esta era a minha lógica.

E foi assim, ajoelhava todos os dias e rezava, tantas vezes pudesse por dia, porém no trigésimo e poucos dias aquela situação foi me dando uma sensação desagradável parecia que eu enganava a mim e a Nossa Senhora. Não sentia uma comunicação entre nós, era vago.

Então, não agüentando mais, ainda ajoelhada, parei no terceiro mistério e comecei a falar com Ela. Dizia a Ela para me perdoar pelo que eu estava fazendo, mas que eu só queria algum jeito de ficar em paz, dizia que não sentia a presença dEla,  já fazia tempo e como isto me fazia falta, parecia que Ela estava tão distante, por mais que eu soubesse que era eu que não me comunicava com ela, que a tinha deixado.

Dizia que achava que estava fazendo tudo errado, mas que em um momento de desespero acabei fazendo aquela promessa de rezar o terço durante aqueles dias só porque eu queria um pouco de paz em minha vida, queria ser um pouco mais paciente e não sabia como e a quem recorrer.

Dizia também que eu não compreendia como ela poderia interceder por alguém através do terço, disse que eu acreditava nEla, mas não naquela oração, fazia pq outros faziam. Apesar de tudo disse que continuaria a rezar, simplesmente porque havia dado minha palavra a Ela e faria o possível para acreditar, pois era algo dEla e não queria desapontá-la mais uma vez.

Ainda ajoelhada, desolada por imaginar que ninguém me ouvira, peguei aquele terço, respirei fundo e disse a mim mesmo e a Maria supliquei: “vou cumprir minha palavra, farei o possível Senhora, mas me ajude”, segurando a continha comecei a rezar de onde eu havia parado, em uma Ave Maria. Então, pronunciei: “Ave Maria” e algo forte subiu pelos meus pulmões tomando conta de minha boca, comecei a falar e com força fechei a boca balancei a cabeça  e disse p mim mesmo: “O que é isso? Não! Vou tentar de novo” e tentei: “Ave” e novamente veio aquela força imensa, coloquei a mão em minha boca, balancei a cabeça novamente, falei comigo que nem rezar eu conseguia mais, precisava de concentração e insistentemente  tentei pela terceira vez manter minha palavra e continuar a rezar o terço, o mesmo acontecera, insisti com a quarta vez e devagar soletrei com muito medo: “A-V-E” aquela força tomou conta de mim que não pude segurar mais, comecei a falar, falar e não parava. Meus joelhos tremiam, por um instante uma sensação de  “cansaço” se apoderou de meu corpo, sem  controle e em meio as  lágrimas que escorriam pelo meu rosto fui ao chão e lá fiquei com o terço entre meu dedos até me recuperar.

Depois de alguns minutos levantei-me e sentei num pequeno “puf”. Era estranho e bom. Sentia calma como uma criança aninhada nos braços de sua mãe. Onde estava a aflição, a angustia, a tristeza, a impaciência? tudo desaparecera como um sopro.

Logo, tudo era silêncio. E a brisa de um novo mundo, um novo olhar se abrira p mim. Naquele instante percebi que o céu poderia ser encontrado nos recantos mais improváveis, naquelas continhas, aquelas continhas...

Lembrei-me de uma única vez que eu havia falado daquele jeito, o que aconteceu, e das promessas que se cumpriram posteriormente. Com os olhos naquelas continhas e virando a medalhinha de um lado para o outro entendi tudo. Estava tudo tão claro. o mistério...

Naquele dia compreendi que o maior presente que Deus poderia me dar era entender a minha própria vida, ter explicações para ela – como se seguiu posteriormente, nos momentos que vivi e vivo até hoje – e ter a paz que buscava.

Também compreendi que a Vida era possível, que Deus me olhou, na sua infinita bondade. Pude entender o que era a misericórdia.

Na semana seguinte, num ônibus e nos bancos da frente, um senhor raivoso e xingando tudo e todos se sentou ao meu  lado. O problema dele: o medicamento que comprara era mais que o dobro da farmácia ao lado. Falava alto de forma que todos ouviam e o meu pobre ouvido não foi nada poupado.

Uma pausa. E começamos a conversar, percebia que seu tom de voz, embora ainda raivoso, ia abaixando. Depois, quase 20 minutos, aquele senhor me olhou e me disse: “continue assim filha com essa luz, essa alegria e paz que seus olhos transmitem elas são mais radiantes que os raios de sol.”

Nunca me esqueci daquela fala, nunca vi tanto raio junto e então falei bem baixinho com ele para que abaixasse seu tom de voz, desta vez não funcionou e ele vagarosamente ao descer do ônibus falava alto: “Ela tem uma luz, tem paz, olha como estou? Deus abençoe todos vocês, vão com Deus, tenham paz em suas vidas...” enquanto ele dizia e apontava p mim eu me encolhia no banco forçando meu corpo contra o encosto, fazia tempo que não sentia tanta vontade de me tornar invisível, tanta vergonha.

Os senhores, o motorista e o cobrador riam e diziam: “o que ouve com ele, ele é sempre ranzinza” e o motorista olhando pelo retrovisor me perguntou: “menina o que vc falou p aquele homem?” Eu sorri e disse que não havia falado nada, ao insistirem eu disse que havia falado de como a vida era boa. Até descer me senti um daqueles animaizinhos exóticos sendo observado. E tive que ouvir uma piadinha do cobrador: “qdo vc vier não precisa pagar é so acalmar os passageiros”.

Estava certo p mim. Uma graça imensa foi derramada em minha vida no dia do terço - não só percebi nos dias que se seguiam, mas ao ouvir a primeira pessoa que consegui contar, uma senhora evangélica que trabalhava p minha mãe  e que pedi segredo (lembro-me que me senti confortável p contar p ela, pelas conversas que já tivemos, pela fé que ela tinha em Deus e pq achava que ela poderia me falar outra coisa do que seria aquilo, acho que queria ouvir uma outra opinião, um outro jeito de ver aquilo) e depois de me ouvir me contou sobre um acontecimento com o terço numa casa de Campinas que uma amiga dela trabalhava e completou dizendo: “Sabe, muitos irmãos me criticam, mas eu acredito em Maria, no terço, p Deus e para aquele que crê tudo é possível, de valor a isto, Deus recebe as orações do coração, a gente vê se estamos certos pelos frutos, não é?“.

Ela me surpreendeu, esperava algum outro ponto de vista, alguma critica, mas não. Nossas conversas eram sempre sobre algo em comum e ela sempre me falou tudo o que pensava, mas eu nunca imaginei que ouviria aquilo e daquela forma, creio que realmente precisava ouvir.

Eu me sentia leve, diferente, algo emanava de meu ser, e naquele dia depois do que aconteceu comigo pedi permissão para rezar aquele terço e continuei não mais até os “100 dias”.

Nos dias que seguiram notei que estava diferente, não me irritava com nada por mais que tentasse, era estranho e bom. Eu sentia e me falavam, minha vida ficou mais tranqüila, mais alegre, mais suave. Passei a acreditar no poder da oração do Santo Terço. Este foi apenas o inicio de toda uma mudança que viria e que hoje percebo que ainda acontece.                                                         


Obrigada Mãe Maria por me ensinar a docilidade, a suavidade da vida!


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